O Suicidio e a contribuiçao da Psicologia para sua prevençao e intervençoes eficazes

31/05/2014 11:00

"Existe apenas um único problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida significa responder à questão fundamental da filosofia." 

- Albert Camus

                                                                                                                                                                   

                          Tela: Sisifo, Tiziano Vecellio (1548-1549)

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Os suicídios resultam de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais e ambientais. Uma melhor detecção na comunidade, o encaminhamento para especialistas e a gestão do comportamento suicida são passos importantes na prevenção do suicídio. O desafio-chave de tal prevenção consiste em identificar as pessoas que estão em risco e que a ele são vulneráveis; entender as circunstâncias que influenciam o seu comportamento auto-destrutivo; e estruturar intervenções eficazes.

Neste caso, a educação eficaz da comunidade, uma intervenção vital e básica, inclui o entendimento das causas do suicídio, assim como a prevenção e tratamento. Embora as taxas de suicídio variem de acordo com categorias demográficas, elas aumentaram aproximadamente 60% nos últimos 50 anos. Estes dados sao alarmantes e suficientes para que os profissionais e a comunidade se interessem pelo tema em questao; portanto a sociedade precisa ter uma postura mais ativa e participativa.

Etimologicamente a palavra suicidio tem suas origens no latim Sui = si mesmo e Caedes = açao de matar, sendo a morte auto-inflingida, provocada por um ato voluntario e intencional.

A palavra suicidio foi utilizada pela primeira vez no século XVII, na Inglaterra. O termo aparece na obra do ingles Sir Thomas Browne, na obra Regio Medici, publicado em 1642 (Sena, 1967).

Para saber mais leia também: Historia do suicidio: Aspectos culturais, socioeconomicos e filosoficos

Tela: Ophelia (Williams Oxwer)

Suicidio na atualidade:

O suicidio é atualmente uma das tres principais causas de morte entre jovens e adultos em todo o mundo. 

De acordo  com os dados da Organizaçao Mundial de Saude, a taxa de mortes causada por suicidio, aumentou 60% nos ultimos 50 anos, aproximadamente 1 milhao de pessoas tiram a propria vida todos os anos, sendo 01 ocorrencia a cada 30-40 segundos, sendo esta quantidade superior às mortes em guerras e genocidios e outros tipos de violencia. Sao 2.740 suicidios por dia, 114 por hora. Na faixa etaria de 15-44 anos o suicidio tem o 3° lugar de causa de mortalidade no mundo; Na faixa etaria de 10-24 anos, o suicidio ocupa o 2° lugar de mortalidade mundial. A cada 10 tentativas, 1 consegue exito neste intuito. Tratado como tabu, mas nao deveria ser assim, pois é um problema de saude publica em que a prevençao deve ser a soluçao do problema, a populaçao deve ser participativa junto às politicas publicas para o debate do problema.

 

Como lidar com pacientes com ideaçao suicida ou que tentaram suicidio:

É preciso encontrar um local adequado onde haja privacidade para o atendimento, reservando o tempo que for necessário para o atendimento, ouvindo o paciente de forma efetiva, sem recriminações e utilizando uma abordagem calma.

Dicas de como se comunicar:   Ouvir atentamente e com calma, entendendo os sentimentos da pessoa (empatia); Dar mensagens não verbais de aceitação e respeito, expressando respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa e conversar honestamente e com autenticidade, mostrando sua preocupação, seu cuidado e sua afeição e focalizando nos sentimentos da pessoa.

Fatores de Proteçao:

Embora tais fatores de proteção não eliminem o risco de suicídio, podem contrabalançar o peso imposto por circunstâncias difíceis da vida. No entanto, os fatores de proteção reduzem o risco de suicídio; são considerados isoladores contra o suicídio e incluem: 

• Apoio da família, de amigos e de outros relacionamentos significativos; 

• Crenças religiosas, culturais e étnicas; 

• Envolvimento na comunidade; 

• Uma vida social satisfatória; 

• Integração social como, por exemplo, através do trabalho e do uso construtivo do tempo de lazer; 

• Acesso a serviços e cuidados de saúde mental. 

Fatores de risco e situaçoes de risco:

Os comportamentos suicidas são mais comuns em certas circunstâncias devido a fatores culturais, genéticos, psicossociais e ambientais. Os principais fatores de risco de suicidio sao: historia de tentativa de suicidio e transtorno mental No entanto, outros fatores de risco gerais incluem: 

• Estatuto sócio-económico e nível de educação baixos; perda de emprego; 

• Stress social; 

• Problemas com o funcionamento da família, relações sociais, e sistemas de apoio; 

• Trauma, tal como abuso físico e sexual; 

• Perdas pessoais; 

• Abuso de álcool e de substâncias;

• Sentimentos de baixa auto-estima ou de desesperança;

• Questões de orientação sexual (tais como homossexualidade);

• Comportamentos idiossincráticos (tais como estilo cognitivo e estrutura de personalidade); 

• Pouco discernimento, falta de controle da impulsividade e comportamentos auto-destrutivos; 

• Poucas competências para enfrentar problemas; 

• Doença física e dor cronica; 

• Exposição ao suicídio de outras pessoas; 

• Acesso a meios para conseguir fazer-se mal; 

• Acontecimentos destrutivos e violentos (tais como guerra ou desastres catastróficos). 

 

O comportamento suicida pode ser dividido nas seguinte situações: 

Ideação suicida: seria a motivação intelectual que leva ao suicídio;

Ato suicida: seria uma alteração na conduta do indivíduo, que faz com que ele aja, intencionalmente buscando provocar a própria morte;

Tentativa de suicídio: é a situação onde o indivíduo não morre em decorrência do ato suicida; 

Risco de suicídio: é a probabilidade de que a ideação suicida leve ao ato suicida;

 

OS DEZ PRINCIPAIS MITOS SOBRE COMPORTAMENTOS SUICIDAS

Segundo a OMS (Organizaçao Mundial da Saude), existem mitos acerca dos comportamentos autocidas e estes necessitam ser elucidados para que a populaçao possa identificar padroes de comportamento que possam levar a um suicidio. Sabemos que o tema morte é um tabu na nossa sociedade e muito mais ainda quando se trata de morte voluntaria ou suicidio. De qualquer modo, é imprescindivel identificar estes comportamentos no intuito de termos uma abordagem preventiva e eficaz a favor da vida em nossa comunidade/sociedade. Identifique voce também estes mitos e ajude a salvar uma vida.

MITO 1: As pessoas que relatam querer se matar nao irao faze-lo, pois chamar atençao é o seu intuito. FALSO. Todas as ameaças de ideaçao suicida devem ser levados a sério;

MITO 2: O suicidio é sempre impulsivo e acontece sem aviso. FALSO. Tentativas de suicidio podem parecer algo impulsivo; No entanto, pode ter sido ponderado durante algum tempo, inclusive ter sido acompanhado de algum comunicado verbal ou comportamental. Ex.: Carta de despedida, relatos de que era melhor nao ter nascido, desejo de morrer, nao encontrar sentido na vida, etc.;

MITO 3: Quem tenta suicidio esta' decidido a morrer. FALSO. As pessoas que tentam se matar querem eliminar a dor e o sofrimento, nao a vida.;

MITO 4: Quando um individuo mostra sinais de melhoria ou sobrevive a uma tentativa de suicidio, esta pessoa esta' fora de perigo. FALSO. Muito pelo contrario, um dos periodos mais dificeis e perigosos sao aqueles que acontecem imediatamente apos a crise e/ou tentativa de suicidio, portanto é melhor estar muito atento, pois a pessoa se encontra muito fragilizada e necessita de cuidados e atençao;

MITO 5: O suicidio é sempre hereditario. FALSO. Nem todos os suicidios podem ser associados à hereditariedade; No entanto, uma historia familiar de suicidio é SIM um fator de risco importante para o comportamento suicida. 

MITO 6: Os individuos que tentam ou cometem suicidio tem sempre algum disturbio/ perturbaçao mental. FALSO. O comportamento suicida é multideterminado e multifatorial e neste caso, outros fatores entram em jogo e existem casos em que nenhum disturbio mental foi detectado;

MITO 7: Se um profissional da saude fala com o seu paciente sobre suicidio, estarà dando a idéia de suicidio para este. FALSO. Importante perscrutar os estados emocionais do paciente e este procedimento faz parte do processo de psicoterapia com o intuito de ajuda-lo;

MITO 8: O suicidio acontece somente aos outros e nao conosco. FALSO. O suicidio acontece em todos os tipos de pessoas e encontra-se em todas as culturas, classes sociais, condiçao social, genero e faixas etarias diversas, bem como condiçoes familiares diversas;

MITO 9: Apos uma pessoa tentar cometer suicidio uma vez, nunca mais voltarà a tenta-lo novamente. FALSO. A tentativa de suicidio é um preditor crucial para uma outra tentativa se os fatores que causarem estes nao forem devidamente identificados e orientados para uma ajuda ao individuo que o tenta;

MITO 10: As crianças nao cometem suicidio dado que nao entendem que a morte é final e sao cognitivamente incapazes de se empenhar em um ato suicida. FALSO. Embora seja raro, as crianças cometem suicidio sim, e qualquer gesto em qualquer idade devem ser levado a sério.

 

Suicidio Cronico e Suicidio Focal: 

Menninger (1970) confere duas categorias de ato suicida: cronico e focal. O suicidio cronico é aquele que se faz lentamente e aos poucos, portanto, cronicamente, como por exemplo dependencia de alcool, fumo e outras substancias. O suicidio focal designa casos de automutilaçao, ferimentos e acidentes propositais, envenenamento, dentre outros.

 
 

Soraya Rodrigues de Aragao. Psicologa, CRP-11/06853

Para referir: ARAGAO, S. R.

www.consultoriapsi.net

Fontes de Pesquisa:

www.slideshare.net/WashingtonMCosta/suicdio-aspectos-gerais-e-o-papel-da-psicologia-na-sua-compreenso-e-preveno

www.who.int/mental_health/media/counsellors_portuguese.pdf

3  Suicidio: estudos fundamentais / Coordenaçao Alexandrina Maria Augusto da Silva Meleiro; Chei Tung Teng; Yuan Pang Wang, - Sao Paulo: Segmento Farma, 2004;


Leia mais: https://www.consultoriapsi.net/news/o-modelo-biomedico-x-o-modelo-biopsicossocial-de-base-skinneriana